Para muitos, a
casta mais sublime e elegante que existe.
A Pinot Noir é uma casta tinta, originária da França. Não existe mistério
quanto a sua origem, sua terra natal é a espetacular Borgonha há mais de 02
mil anos. Os primeiros registros de seu cultivo remetem aos Gauleses em torno
de 150AC. Sua importância e reconhecimento são antigos. Em 1395, o então
Duque da Borgonha, Felipe, proíbe o plantio e cultivo da casta Gamay na Côte
D’Or por considerá-la de qualidade inferior, privilegiando a Pinot Noir.
Por ser tão antiga, a Pinot Noir originou toda uma família de uvas: Pinot
Gris e Pinot Blanc. Além disso, segundo recentes estudos de DNA, 16 castas
distintas têm a Pinot Noir na sua origem, dentre elas: Chardonnay, Gamay,
Melon de Bourgogne (Muscadet) e Auxerrois (Malbec). O cultivo em outras
partes do mundo só começou na década de 1990 (Nova Zelândia, Califórnia,
Oregon, Austrália).
No século XV, a Pinot Noir começa a ser plantada na região que hoje
conhecemos como Champagne, mais precisamente na sub-região de Epernay.
Segundo a lenda, Dom Pérignon utilizava apenas Pinot Noir, alegando que as
uvas brancas tinham uma tendência latente à re-fermentação. Acontece que
mesmo assim o vinho produzido possuía uma instabilidade enorme, tendendo a
interromper a fermentação com o início do frio (Outono) e voltando a
fermentar no calor (Primavera). Dom Pérignon acreditava que guardar os vinhos
em barris de carvalho fazia com que eles perdessem os aromas, portanto, ele
os guardava já nas garrafas. Quando a segunda fermentação ocorria, o gás
(dióxido de carbono) ficava retido na garrafa. E assim, segundo a lenda,
nascia o Champagne. Champagne feito somente de Pinot Noir.
Voltando para a Borgonha... Foi a partir de 1631, com a venda do La Romanée
em Vosne pela abadia de St.Vivant, que os burgueses de Dijon começaram a
investir na região. Rapidamente, o reconhecimento surgiu e os vinhos de
Vosne, Chambertin, Clos de Bèze, Fixin, Volnay ocuparam lugar de destaque
para os franceses. A primeira classificação oficial data de 1861 e deve-se ao
Dr. Jules Lavalle, do Comitê d’Agriculture de Beaune, que a elaborou para a
Exposição Universal do ano seguinte.
Como podemos explicar que uma região tão pequena, produza vinhos tão
diferentes? Como podemos entender a diferença entre um Volnay e um Pommard,
ou ainda, entre um Chambertin e um Nuits? A explicação mais sábia é o que os
franceses chamam de Terroir, ou seja, o conjunto complexo de solo, clima,
situação e ambiente da videira. "É o terroir que explica a Pinot Noir,
ou a Pinot Noir que explica o terroir: de qualquer forma, intimamente
ligados, os dois constituem a chave da variedade da Côte d’Or." (Hugh
Johnson).
Características
A Pinot Noir não se adapta em qualquer região. É uma casta muito difícil de
cultivar, quase temperamental. Para muitos apreciadores só existe uma região
que vale a pena, a Borgonha. Para outros, menos radicais, ainda pode-se
encontrar bons Pinot Noir na Nova Zelândia e Califórnia. Apesar dessa pequena
diferença de opinião, existe o consenso que ninguém faz Pinot Noir como a
Borgonha. Lá ela se mostra insuperável, majestosa e soberba.
A casta é vigorosa, deve-se tomar cuidado com o rendimento. Se o vinhedo não
for bem cuidado, não há nada que se possa fazer na cantina, ou seja, não se
conserta. Apresenta cachos pequenos e de cor violeta profunda, os seus bagos
também são pequenos, redondos, delicados e de casta fina. Necessita de clima
fresco bem equilibrado. Floresce e amadurece mais cedo. O excesso de frio
produz vinhos pálidos e de sabores pobres. O excesso de calor sobre amadurece
a Pinot Noir, provocando sabores e aromas excessivamente tostados e de
geléias, afastando a elegância marcante.
Em linhas gerais, os aromas primários mais encontrados são: frutas vermelhas
(cereja, framboesa, morango, ameixa), florais (violeta, rosas), especiarias
(alcaçuz, açafrão, canela, orégano, chá verde) outros (vegetação rasteira,
terra molhada, chão de terra, almíscar, azeitona preta). Com o tempo de
guarda, os melhores vinhos podem apresentar: amadeirados (sândalo, incenso,
cedrinho, caixa de charutos), animal (couro velho, suor), outros (ervas,
especiarias, funghi, trufa).
Aromas
Cereja,
Framboesa,
Morango
fresco,
Ameixa
vermelha,
Violeta,
Rosas,
Açafrão,
Sândalo,
Cedrinho,
Trufas,
Terroso,
Almíscar
Na boca, a Pinot Noir é ainda mais fascinante. Alguns especialistas alegam
que ela remete às boas coisas/lembranças da infância. Morangos, sumo de
carne, temperos e uma deliciosa sensação sedosa. Normalmente a acidez se
destaca com taninos e álcool bem equilibrados e discretos. Possui boa
estrutura, intensidade, complexidade e apresenta-se marcante, apesar de seu
corpo ser médio (na maioria das vezes). A passagem por madeira é bem vinda
desde que não destrua sua delicadeza.
A Pinot Noir é uma casta para ser apresentada sozinha (varietal). Poucas
experiências de corte (assemblage) deram certo. Champagne é uma delas, onde
se pode cortar com a Pinot Meunier e a Chardonnay.
Ela pode originar alguns vinhos prontos para o consumo logo que são
engarrafados. Mas os melhores precisam de alguns anos para evoluir. Os vinhos
jovens devem ser consumidos até 05 anos. Os vinhos de guarda seguem a
seguinte linha: de 05 a 12 anos (EUA e Nova Zelândia), de 05 a 20 anos (Côte
D’Or).
Principais Regiões
Conforme já foi dito, a melhor região para a Pinot Noir é a Borgonha. Mas
essa região é complicada, com muitas subdivisões e denominações. A que mais
se destaca é a Côte D’Or, que também é dividida entre Côte de Nuits e Côte de
Beaune, cada uma com as suas apelações, a saber:
Côte
de Beaune: Ladoix, Pernand-Vergelesses, Aloxe-Corton,
Chorey-lês-Beaune, Savigny-lês-Beaune, Beaune, Pommard, Volnay, Monthélie,
Meursault, Auxey-Duresses, Saint-Romain, Puligny-Montrachet, Saint-Aubin,
Chassagne-Montrachet, Santenay e Maranges.
Côte
de Nuits: Marsannay, Fixin, Gevrey-Chambertin,
Morey-Saint-Denis, Chambolle-Musigny, Vougeot, Vosne-Romanée e
Nuits-Saint-Georges.
Cultivada em poucos lugares do mundo, as principais regiões e características
são:
França,
Borgonha (Côte de Nuits) – Começa ao sul da cidade de Dijon e se estende
até Nuits-Saint-Georges. A melhor e mais espetacular região para a Pinot
Noir. Seus vinhos precisam de tempo para evoluir e mostrar todos os nuances
de aromas e gostos;
França,
Borgonha (Côte de Beaune) – Começa na cidade de Ladoix e se estende até
Santenay. Uma das melhores expressões. Vinhos menos complexos que precisam de
menos tempo para evoluir. Elegantes, perfumados e delicados;
França,
Champagne – As melhores vinhas estão em Montagne de Reims e
é aí que a Pinot Noir domina. Outra região produtora é o Aube. No total, ela
é responsável por 35% da área plantada;
Nova
Zelândia – A melhor alternativa a Borgonha. Também é
excelente, porém com menos elegância e delicadeza, mas com uma competente
estrutura. A Ilha do Norte mostrou-se muito quente para a Pinot Noir, assim
sendo, a Ilha do Sul investiu nessa variedade de uva, principalmente na sub-região
de Canterbury e Marlborough. A única exceção na Ilha do Norte é a sub-região
de Wairarapa, onde o micro clima permite produzir Pinot Noir mais excitantes.
Vale a pena;
EUA
(Califórnia) – Produz vinhos deliciosos e muitas vezes,
complexos. Possuem aromas exuberantes de framboesa e cereja com toques de
carvalho francês;
EUA
(Oregon) – O destaque fica por conta da sub-região de
Willamette Valley, excepcional produtora de Pinot Noir;
Outras
Regiões – Ainda merecem destaque alguns produtores da África
do Sul, Chile, Austrália e Itália.
Grandes Pinots Noir
Compatibilização
A Pinot Noir não é uma casta para iniciantes. Sua estrutura mais delicada
pode decepcionar alguns desavisados. Não espere encontrar madeira nova,
excesso de álcool, doçura ou potência. Os Pinot Noir não são assim.
Podemos dizer que ela é muito versátil e bem vinda à mesa. As melhores
combinações são:
Borgonha –
Os parceiros ideais são as aves de caça, como o pato, especialmente se
servidos com cerejas cozidas; galinha d’angola, carré de vitela, trufas. Os
tintos da Côte de Beaune combinam mais com caças de sabores suaves como o
faisão, javali e coelho. Enquanto os tintos da Côte de Nuits, precisam de
sabores mais marcantes, como o pombo, pato selvagem, veado e lebre. Não
esquecendo do clássico Boeuf à la Bourguignonne;
Nova
Zelândia e Austrália – Combinam com codorna, pato, peru, presunto e
peixes carnudos. Por sinal, Atum e Salmão são boas escolhas para Pinot Noir
mais leves e jovens;
EUA -
seguem a mesma compatibilização dos neozelandeses.
Confira os vinhos degustados pela Confraria dos
Prazeres nesta reunião:
01 – Schubert 2003 –
Pinot Noir "Wairarapa" (Nova Zelândia) - Preço de referência:
R$220,00 (WS88)
02 – Mercurey 2001 –
(Borgonha, Côte Chalonnaise) - Preço de referência: R$160,00
03 – A.Rodet 2001 –
Pommard (Borgonha, Côte de Beaune) - Preço de referência: R$260,00
04 – D.Guy Dufouleur 2000 –
Fixin 1er Cru "Clos du Chapitre – Vieilles Vignes" (Borgonha, Côte
de Nuits) - Preço de referência: R$335,00
05 – C.de Molina 2007 –
Pinot Noir (Chile) - Preço de referência: R$39,70 (Vinho que usamos no Jantar
desta noite)
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Até a próxima degustação!
Texto de André Monteiro. Editado e publicado por: Maicon F. Santos.
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quarta-feira, 12 de setembro de 2012
A Uva Pinot Noir
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