Minha coluna semanal Prazer do Vinho me leva a situações que normalmente não faria ou,
sendo bem franco, não perderia tempo. Quando raramente estou adiantado e o
trânsito ajuda, encontro tempo para entrar no supermercado, conferir os preços
e observar os consumidores diante da prateleira. À diferença de mim que tenho
por princípio não comprar em supermercados, há consumidores que vão e vêm, olham pegam devolvem, não sabem exatamente o que querem.
Começa que o mundo do vinho é oceano e a oferta dos supermercados médios é lagoa. E embora os conglomerados
comprem grandes lotes (imaginem o poder de compra do Pão de Açúcar ou do
Walmart), concentram-se naqueles 30 ou 50 rótulos básicos, dos portugueses
famosos há 20 anos, dos santos e santas chilenos e argentinos, o quinhãozinho
do diabo Casillero ou o ainda piorzinho Concha y Toro “reservado”, que na
América do Sul nada significa. É mais uma pegadinha para donas de casa
desavisadas, que também alcança o 2º perfil de consumidor: o que já sabe o que quer. Por detrás desses dois perfis a pegadona está no
preço: a margem de lucro em cima dos “rótulos que todos compram” (Chianti,
Periquita, Dão, Malbec e qualquer coisa com Cabernet Sauvignon) é inusual. Eles são vendidos a preço bem caro.
Então os dois principais perfis citados (o que ‘não
sabe’ e o que ‘já sabe’) são presas fáceis para as grandes redes. O consumidor
de classe média paga caro pelo “vinho do aniversário”. Outra diferença em
relação às lojas especializadas está no fato de que o tipo “não conhecedor” não
encontra no supermercado quem lhe dê orientação. Nessas minhas andanças até
fico tentado a ajudar alguma consumidora “dona de casa”, mas tenho receio,
principalmente quando bonita, de ser mal interpretado. Então ela vai depois
vem, e acaba levando algum merlot ou malbec com a única vaga semelhança de que
ambos começam com “m”.
Numa loja especializada esse mesmo consumidor pode
seguir a orientação do vendedor. O risco nas lojas é ser influenciado. Aí a
recomendação é saber a faixa de preço que pretende
gastar. Mais ou menos como no restaurante quando o someliê lhe indica “aquele
vinho” que quando v. vai ver custa R$ 200, nas lojas especializadas a
preocupação deve ser semelhante: existe o risco de gastar mais do que a
intenção original. Inversão de papéis: o consumidor tentando agradar o vendedor! Daí a sugestão óbvia: use o vendedor para receber orientação
mas não se deixe enganar. Se você pretende gastar na faixa de R$ 50 deixe bem
claro o seu limite, de modo a desconsiderar qualquer tentação na faixa de R$
120. Não se deixe intimidar; saiba que ele é
mais esperto do que você em termos de uma “boa negociação”. Uma dica: se v.
pretende gastar R$ 80 diga logo que pretende gastar R$ 60, deixando margem para
subir no caso de surgir – e sempre acontece – uma “oferta imperdível”.
Mas na minha modesta perspectiva o pior é o segundo
tipo de consumidor que compra sempre o mesmo vinho. Embora exista no mundo
vínico milhares de rótulos e uvas por descobrir, o cidadão conservador gosta
mesmo é de repeteco, sente-se seguro com o chardoné com peixe e o malbecão com
massa e frango. Sai de férias sempre para o mesmo lugar (digamos Gramado ou
Porto de Galinhas) com medo de sair da concha. Por isso as santas chilenas e
santos argentinos cobram caro de seus clientes cativos por vinhos que não
ultrapassam o limite da mediocridade. Em minha modesta visão apenas quem é rico
compra vinho em supermercado; apesar do aparato de prateleiras, mesas e ar
condicionado das lojas intimidar alguns, elas são opção bem melhor, desde que o
consumidor saiba exatamente o que pretende gastar e não se deixe levar pelo
devaneio do vendedor.
Por Carlos Celso Orcesi da Costa
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