terça-feira, 21 de agosto de 2012

Supermercado ou Loja de Vinhos?


Minha coluna semanal Prazer do Vinho me leva a situações que normalmente não faria ou, sendo bem franco, não perderia tempo. Quando raramente estou adiantado e o trânsito ajuda, encontro tempo para entrar no supermercado, conferir os preços e observar os consumidores diante da prateleira. À diferença de mim que tenho por princípio não comprar em supermercados, há consumidores que vão e vêm, olham pegam devolvem, não sabem exatamente o que querem.

Começa que o mundo do vinho é oceano e a oferta dos supermercados médios é lagoa. E embora os conglomerados comprem grandes lotes (imaginem o poder de compra do Pão de Açúcar ou do Walmart), concentram-se naqueles 30 ou 50 rótulos básicos, dos portugueses famosos há 20 anos, dos santos e santas chilenos e argentinos, o quinhãozinho do diabo Casillero ou o ainda piorzinho Concha y Toro “reservado”, que na América do Sul nada significa. É mais uma pegadinha para donas de casa desavisadas, que também alcança o 2º perfil de consumidor: o que já sabe o que quer. Por detrás desses dois perfis a pegadona está no preço: a margem de lucro em cima dos “rótulos que todos compram” (Chianti, Periquita, Dão, Malbec e qualquer coisa com Cabernet Sauvignon) é inusual. Eles são vendidos a preço bem caro.

Então os dois principais perfis citados (o que ‘não sabe’ e o que ‘já sabe’) são presas fáceis para as grandes redes. O consumidor de classe média paga caro pelo “vinho do aniversário”. Outra diferença em relação às lojas especializadas está no fato de que o tipo “não conhecedor” não encontra no supermercado quem lhe dê orientação. Nessas minhas andanças até fico tentado a ajudar alguma consumidora “dona de casa”, mas tenho receio, principalmente quando bonita, de ser mal interpretado. Então ela vai depois vem, e acaba levando algum merlot ou malbec com a única vaga semelhança de que ambos começam com “m”.

Numa loja especializada esse mesmo consumidor pode seguir a orientação do vendedor. O risco nas lojas é ser influenciado. Aí a recomendação é saber a faixa de preço que pretende gastar. Mais ou menos como no restaurante quando o someliê lhe indica “aquele vinho” que quando v. vai ver custa R$ 200, nas lojas especializadas a preocupação deve ser semelhante: existe o risco de gastar mais do que a intenção original. Inversão de papéis: o consumidor tentando agradar o vendedor! Daí a sugestão óbvia: use o vendedor para receber orientação mas não se deixe enganar. Se você pretende gastar na faixa de R$ 50 deixe bem claro o seu limite, de modo a desconsiderar qualquer tentação na faixa de R$ 120. Não se deixe intimidar; saiba que ele é mais esperto do que você em termos de uma “boa negociação”. Uma dica: se v. pretende gastar R$ 80 diga logo que pretende gastar R$ 60, deixando margem para subir no caso de surgir – e sempre acontece – uma “oferta imperdível”.

Mas na minha modesta perspectiva o pior é o segundo tipo de consumidor que compra sempre o mesmo vinho. Embora exista no mundo vínico milhares de rótulos e uvas por descobrir, o cidadão conservador gosta mesmo é de repeteco, sente-se seguro com o chardoné com peixe e o malbecão com massa e frango. Sai de férias sempre para o mesmo lugar (digamos Gramado ou Porto de Galinhas) com medo de sair da concha. Por isso as santas chilenas e santos argentinos cobram caro de seus clientes cativos por vinhos que não ultrapassam o limite da mediocridade. Em minha modesta visão apenas quem é rico compra vinho em supermercado; apesar do aparato de prateleiras, mesas e ar condicionado das lojas intimidar alguns, elas são opção bem melhor, desde que o consumidor saiba exatamente o que pretende gastar e não se deixe levar pelo devaneio do vendedor.

Por Carlos Celso Orcesi da Costa



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