sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Champagne Até Quando?


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José Peñin, o parker espanhol, tem frase feliz: “ Champagne é um truque para transformar um vinho impossível em bebível”. Na região fria a fermentação da uva começava depois da colheita de outono, mas parava no inverno. O vinho engarrafado voltava a fermentar (e a explodir garrafas) na primavera. Como a necessidade é a mãe de todas as invenções (Platão) vieram(a) garrafa grossa(b) rolha gorda(c) a ideia genial do lacre de ferro(d) e por um fim as soluções químicas que chegaram ao pris de mousse (2ª fermentação) via da adição do liqueur de tirage, técnica que consiste em congelar o gargalo, expelir depósitos e adicionar leveduras antes do engarrafamento, ressuscitando bolhas que comemoram aniversários ou a primeira vitória de meu amigo Lelo na fórmula-60 em Interlagos.

As estatísticas não batem mas algo em torno de 320 a 400 milhões de garrafas/ano em 35 mil hectares ou 15 mil alqueires de vinhedos. Importante o preço médio da champagne (E$ 12) quando comparado ao cava espanhol (E$ 1,62), nove vezes mais segundo Peñin. Em resumo: champagne é bebida de riscos; vez por outra a classe B abre uma quando nasce o filho ou (para não perder a piada) morre a sogra. A classe B prefere Prosecco, a C os tais fermentados de maça do tipo...macieira.

Curioso saber que pouco mais de 200 de 20 mil produtores compram e engarrafam o próprio vinho. 18.800 agricultores (em média 2ha. por produtor) são cada vez mais disputados pelos 200 manipulants (empresas e cooperativas). Roederer é um dos maiores autônomos com 60% de vinhedos próprios. Ou seja, quando compramos Lanson, Piper, Bollinger, Veuve, Pommery, Ruinart, estamos degustando vinho terceirizado. Na visão pessimista estamos bebendo rótulos; na otimista provando métodos de mistura(assemblage de uvas e safras). O ex-presidente da Heublein no Brasil – Rogério Amato – me ensinava que, quando implantou laboratório de prova na empresa, tinha como meta alcançar padrão imutável, de modo que o produto(p.ex.o conhaque Dreher) fosse igual hoje e daqui a 10 anos.




Champagne também é repetição de estilo; o consumidor pretende que a Moët vendida em 2010 tenha gosto semelhante à 2013(ressalvadas as vintages ou safradas). Daí a importância do milagre de chai ou chefe de cave ser bem maior lá do que, digamos, em Bordeaux. Partindo do exemplo de duas de minhas prediletas, Deutz é jovial, tem manteiga e especial longitude de boca, enquanto Philliponnat tem Pinot Noir e corpo.

O consumidor que tentar compreendê-las poderá eleger sua preferida; basta pensar depois do 1º gole. Na semana retrasada em homenagem ao Desembargador Cesar comparamos Delamotte Blanc des Blancs(100%chardonnay, daí o nome branca de uvas brancas) e Jacquesson Cuvée nº 732 com 55% de Pinot, nítida a diferença de cor, peso e paladar. Há quem goste de Krug e outras caríssimas que têm certo traço acre vindo da mistura de lotes antigos e envelhecimento em carvalho.

 Pessoalmente não sou fã do preço e nem do gosto algo ferroso. Dentre as topos prefiro as de corpo médio, como Amour de Deutz e Dom Pérignon, a mais vendida do segmento luxo (3 milhões/ano).

 Em maio de 2010 Mary e eu serpenteamos pela D-26 Route du Champagne por 2 horas, subindo e descendo a ponto de perder a referência. Parece tudo plantado, ou seja, não há espaço para aumento da produção. O governo francês tem comissão estudando esticar os limites da região. Deixar como está levará o preço da uva (já atualmente, em média, o mais caro do mundo) a limites insuportáveis. Ressalvadas algumas exceções como os cavas Roventós e Non Plus Ultra de Codorniu, raros nacionais que nem sempre se mantêm no ano seguinte, e bons Franciacortas, na média a champagne é melhor. Nada disso justifica adotar como estratégia o segmento dos ricos e famosos. Há mercados inexplorados que-mais ou menos como aconteceu no Brasil com o Prosecco-podem se acostumar com Fusca sem jamais provar o gostinho de acelerar um Porsche. E, o que será pior, perder a mítica de almejar...o tal do Porsche.

Fonte: Diário do Comércio



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