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Fiz um
esforço; no casamento de meu filho servi champagne Laurent Perrier. Entretanto
– vim a saber – alguns garçons serviam os convidados com a frase "quer
mais prosecco"? Ou seja, de tão comum o prosecco se tornou denominação
geral de espumantes. Porque isso aconteceu é o que procuraremos explicar,
antecipando que a resposta está... no preço.
Antes tentarei reconstruir a história do champagne, lembrando
inicialmente que seria vinho ruim... se as bolhas não tivessem sido
controladas. No frio nordeste da França, a fermentação começava no fim do
outono e interrompia naturalmente no inverno (mais ou menos como hoje se
controla a fermentação). Todavia, com a volta do calor na primavera, a
fermentação reiniciava na garrafa arrolhada e... bum!
Os abades Perignon e Ruinart dominaram a técnica, encomendando
vasos mais fortes e rolhas ao invés de panos. Mais tarde criou-se a remuage ou virada da garrafa de ponta-cabeça,
com a remoção dos resíduos e a injeção do licor concentrado que induz a segunda
fermentação. Tudo isso faz do champagne um produto caro. Com o auxílio do
marketing, foi associado ao segmento luxo das grandes ocasiões, como vencer na
Fórmula-1.
Estima-se que a França produza 500 milhões de garrafas, 300
milhões na Champagne, mais 200 milhões nas outras regiões (Crémant d'Alsace, de
Bougogne, Vouvray). A segunda região produtora não é a Itália nem a Espanha
(Cava), mas sim a... Alemanha. Seu espumante pouco conhecido se chama Sekt,
e praticamente todas as 350 milhões de garrafas são consumidas internamente. Em
seguida vem a Itália com 250 milhões entre Prosecco, Franciacorta e outros. No
quarto lugar a Cava espanhola (nome do vinho e da região, na Catalunha, perto
de Barcelona) com produção em torno de 200 milhões de garrafas/ano.
Pois bem, em 1800, Antonio Carpené e três amigos fundaram uma
empresa em Conegliano para produzir espumante. Eis o início do prosecco que,
mais tarde, tornou-se o mais consumido espumante italiano. O grande salto
aconteceu na década de 1980 com a produção maciça em tanques de aço inoxidável
e exportação para os EUA (1º) e Brasil (4º). A vantagem competitiva? Custa 20 a
25% do preço do benchmark. Mas nem tudo são flores; o problema foi o nome! Sim, prosecco é (ou era) nome de uma uva, não de uma região.
Liberou geral; as regiões vizinhas ao centro também passaram a produzir, como
também em vários países (inclusive o Brasil) mais ou menos como se vinificassem
Tempranillo ou Sangiovese.
Em 2009, o governo Italiano demarcou a região original e num
golpe de gênio que fez lembrar os velhos juristas do direito romano passou a
qualificar a uva por seu nome nativo: Glera. Assim, a
partir de 2010, o miolo nobre (Valdobiadene, Conegliano, Cartizze e Asolo) se
chamará Prosecco DOCG (Denominação de Origem Controlada e
Garantida) não mais como nome de uva, mas sim como nome da região. Quem
utilizava a uva prosecco para navegar na onda, agora, ao menos do ponto de
vista da lei italiana e da comunidade europeia, estará impedido. Acaso queiram
continuar o engodo ao consumidor poderão usar o nome da uva... Glera. Ou seja, prosecco
agora apenas da região original. Estima-se que, do total de
160/170 milhões de garrafas, o miolo produza 70 milhões, e o Prosecco (ops)
regional (antiga denominação IGT, agora DOC) algo como 100 milhões.
Grandes juristas, maus espumantes! O problema não é legal, mas
de intrínseca falta de qualidade.
Direto e simplório, alguns exemplares chegam a ser enjoativos. A partir desta
única... Glera, é leve, cítrica para doce e tem bolhas pouco persistentes. Beba
logo porque o gás acaba. Vamos então engolindo sem atenção, perseguindo algo
que o prosecco não retribui. Má vontade? Críticos são sempre crilas?
Façam para si mesmos um teste: qual o melhor prosecco de que se
lembram? Nenhum... são todos tão iguais! Tanto é que a lei italiana de
01/08/2009 trouxe novas exigências em termos de menor
produtividade por vinha, buscando melhorar a qualidade. Auguri,
aspettiamo! A parte
boa está no preço camarada, em torno de R$ 40. Nada contra a Itália, até porque
prefiro franciacorta depois de champagne.
Se meu
gosto pessoal prevalecesse teríamos o fim do prosecco nas festinhas de
lançamentos e casamentos Brasil afora. Veremos na semana que vem se há algo
melhor do que... Glera.
por Carlos Celso Orcesi da
Costa
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