quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Arte feita para harmonizar com a paisagem toscana


A coleção de obras de arte de Lorenzo e Marco Pallanti, os donos do Castello di Ama


Luiz Horta/AE
Obra de Anish Kapoor, dentro da capela da propriedade, emite ruído constante

Tem gente que faz bom vinho, e é bacana. Tem gente que coleciona arte, sabendo o que escolhe, e é muito bacana. Já um casal como Marco e Lorenza Pallanti, que faz as duas coisas muito bem, já é um exagero. 
Sua coleção não é comprada em galerias ou leilões. É encomendada diretamente aos artistas, para que façam obras site-specific, pensadas para o local e que tenham um diálogo com a paisagem circundante e o assunto vinho, e com o gosto expressivo do duo Pallanti. 
Os escolhidos, sempre favoritos do casal, podem passar o tempo que queiram no Castello, discutir as obras, experimentar. Assim, o Ama vira um museu vivo e com arte espantosamente integrada à paisagem. 
É preciso escutá-los contando de como cada trabalho foi elaborado, para dar ainda mais valor ao que fazem. 
Claro que um dos momentos mais emocionantes foi o de seu encontro com Louise Bourgeois. A artista francesa já estava muito doente para viajar. Recebeu-os na sua residência nova-iorquina e desenhou a escultura. Eles compraram o mármore em Carrara, levaram a Nova York, onde a artista plástica esculpiu uma parte e supervisionou o assistente para que a terminasse.
A de Anish Kapoor também é deslumbrante, foi a obra que mais mexeu comigo. Instalada numa pequena capela, com a pintura e o altar ainda lá, a bola vermelha sem fundo emite um som constante, propositalmente criado para lembrar a monodia do canto gregoriano. 
Por sugestão de Lorenza fiquei sozinho, fechado, deitado no chão, durante um período em que o mundo desapareceu da minha vida. Pena que só temporariamente...
A mais visível é o muro de espelhos de Daniel Van Buren. O jogo entre a paisagem, as janelas cortadas no espelho, o reflexo da paisagem contra a própria paisagem, são uma alegoria de obras da Renascença, quase invisível na sutileza, mas igualmente muito moderna. 
A visita, feita numa manhã de domingo, tendo Lorenza como guia e finalizada com um “roubo”, em que ela e eu provamos em segredo os vinhos 2011 das barricas, fica como uma grande lembrança para mim da cortesia do finíssimo casal romano-florentino. 

Por Luiz Horta

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