A coleção de obras de arte de Lorenzo e Marco Pallanti, os donos do
Castello di Ama
Luiz Horta/AE
Obra de Anish Kapoor, dentro da capela da propriedade, emite ruído
constante
Tem gente que faz
bom vinho, e é bacana. Tem gente que coleciona arte, sabendo o que escolhe, e é
muito bacana. Já um casal como Marco e Lorenza Pallanti, que faz as duas coisas
muito bem, já é um exagero.
Sua coleção não é
comprada em galerias ou leilões. É encomendada diretamente aos artistas, para
que façam obras site-specific, pensadas para o local e que tenham um diálogo
com a paisagem circundante e o assunto vinho, e com o gosto expressivo do duo
Pallanti.
Os escolhidos,
sempre favoritos do casal, podem passar o tempo que queiram no Castello,
discutir as obras, experimentar. Assim, o Ama vira um museu vivo e com arte
espantosamente integrada à paisagem.
É preciso
escutá-los contando de como cada trabalho foi elaborado, para dar ainda mais
valor ao que fazem.
Claro que um dos
momentos mais emocionantes foi o de seu encontro com Louise Bourgeois. A
artista francesa já estava muito doente para viajar. Recebeu-os na sua
residência nova-iorquina e desenhou a escultura. Eles compraram o mármore em
Carrara, levaram a Nova York, onde a artista plástica esculpiu uma parte e
supervisionou o assistente para que a terminasse.
A de Anish Kapoor
também é deslumbrante, foi a obra que mais mexeu comigo. Instalada numa pequena
capela, com a pintura e o altar ainda lá, a bola vermelha sem fundo emite um
som constante, propositalmente criado para lembrar a monodia do canto
gregoriano.
Por sugestão de
Lorenza fiquei sozinho, fechado, deitado no chão, durante um período em que o
mundo desapareceu da minha vida. Pena que só temporariamente...
A mais visível é o
muro de espelhos de Daniel Van Buren. O jogo entre a paisagem, as janelas
cortadas no espelho, o reflexo da paisagem contra a própria paisagem, são uma
alegoria de obras da Renascença, quase invisível na sutileza, mas igualmente
muito moderna.
A visita, feita
numa manhã de domingo, tendo Lorenza como guia e finalizada com um “roubo”, em
que ela e eu provamos em segredo os vinhos 2011 das barricas, fica como uma
grande lembrança para mim da cortesia do finíssimo casal
romano-florentino.
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