Às 3 da tarde de uma 5ª feira, mesmo com GPS,
tentávamos levar o carro ao centro de Nova York, mais exatamente à garagem da
locadora na 23 West. O trânsito simplesmente empacou, em boa parte porque os
carros não respeitavam a placa de "nunca fechar o cruzamento".
Cansado após 550 kms. de viagem desde o interior da Virgínia (Charlotsville,
aonde visitei Monticello, a bela fazenda de Thomas Jefferson) parecia que
"jamais" nos livraríamos do automóvel. No túnel Lincoln foi difícil
entrar e mais difícil ainda sair! No auge da irritação me veio à mente Frank
Sinatra cantando New York Niuu Yôórrk, quando meu estado
de espírito estava mais para maldizer o dia em que acumularam tantos automóveis
numa maçã.
Fazia mais de dez anos que não
voltava à Big Apple, desde a
coincidência da viagem no feriado de 12 de outubro de 2001, exatos 30 dias após
o atentado às torres do World Trade Center. Essa viagem estava paga quando
houve o ataque. Maria Helena queria desistir com medo do antrax e outras
ameaças, mas as agências de viagem, hotéis e outros não devolviam um centavo do
preço. Optamos por não perder nosso rico dinheirinho. Fomos a pé até os
escombros do WTC, sete andares de entulho, fumaça, poeira e indizível mistura
azeda que parecia carne humana. Pelo país inteiro, Montana, Massachucetts e
Connecticut as bandeiras foram hasteadas com a frase united we stand, que no contexto significava continuamos de pé.
Onze anos depois NYC cicatrizou as
feridas, os teatros da Broadway continuam cheios (não para mim que já cansei
dessa maratona), novos restaurantes abrem e fecham, e a disputa por táxis
continua renhida. A recomendar o charmoso mercado Eataly, na 5ª Avenida 200, que tem o que há de melhor de peixes, verduras,
pães, sorvetes e vinhos... italianos. No mercadão de luxo há 5 ou 6
restaurantes: pizza, pasta, peixes e frutos do mar, carne (Manzo), lanches
rápidos etc. No restaurante central vendem vinhos a copo, e então dezenas de
pessoas circulam bebericando vinho branco fácil (do tipo Tocai do Friuli ou
Frascati). Beber e comer Itália, eat Italy.
No sábado fomos ao Aldea (1 estrela Michelin) de George Mendes, filho de pais portugueses. O
chefe sofisticou o bacalhau e até mesmo o bolinho de bacalhau, mas erra na dose
e na substância. O bacalhau chegou em corte homeopático, acompanhado de um
molho escuro desenhado no prato. O que seria aquilo? Espuma de azeitona; mas
porque não a própria para mastigar? E menos: a espuma de azeitona deu para duas
garfadinhas, quase pedi mais para acompanhar. Achei que não seria venerável e
só fui forrar o estômago com um belo sorvete no caminho de volta para o hotel.
Apenas se salvou o serviço de vinhos a copo, que me permitiu comparar Esporão
Reserva com Albariño espanhol e por fim encerrar com Meandro do Vale Meão, esse
notável português que, aqui no Brasil, a importadora Mistral carrega no preço
porque é excelente relação custo-benefício.
No domingo visitamos o Marea do chefe
Michael White, muito bem localizado perto do Plaza na 240 Central Park South.
Como o nome indica, é forte nos frutos do mar (esplêndida ambientação e
lotado), mas está longe de ser "imperdível". Por exemplo, traz o
absoluto inconveniente de deixar ao cliente a opção entre 4 ou 5 molhos e
acompanhamentos. Prefiro quando o chefe escolhe o que é melhor para mim. Não é
que comemos mal; e até imaginávamos que o jantar custaria o dobro (duas
estrelas Michelin). Bom peixe, mas aqui o Ruffino's serve igual e o Amadeus muito
melhor. O Guia Michelin, tão rigoroso ao avaliar restaurantes na Itália e em
Portugal, pelo visto é generoso quando se trata de proclamar o glamour da Big
Apple.
Fomos também ao Lever House na Park
Avenue, mas essa estória engraçada eu contarei outro dia.
Niuiórk continua cheia de executivos,
táxis amarelos, prédios altos e moçada bonita correndo no Central Park,
indiferentes às levas de turistas que tentam tomar conta do mesmo espaço.
Depois que nos livramos do Cruise da Budget recuperamos o bom humor, renovamos
o espírito e fomos ao Metropolitan, ao Frick e... às compras. Comprei algumas
roupas baratas que no Brasil seriam caras e vinhos tops da Califórnia (entre eles Montelena e Caymus). Por fim acompanhei MH
pacientemente, até desistir de entender o que ela estava procurando. Até
utensílios de cozinha vimos, embora nos falte espaço para qualquer alfinete.
Vale a pena ficar à toa olhando o ir e vir das gentes; NYC continua bombando,
desta vez para o alto, como o skyline do novo WCT que
permanece de pé.
por Carlos Celso Orcesi da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário