O mundo do vinho é repleto de dogmas, mas nem todos devem ser seguidos à
risca. Mais do que isso, muitos deles sequer são verdadeiros
O mundo do vinho é
carregado de rituais. E os rituais costumam gerar dogmas, pontos fundamentais
ensinados em uma crença est abelecida ou doutrina; e, por definição,
incontestáveis. Essa falta de contestação nos coloca numa situação de conforto
intelectual e comport amental, afinal de contas, "se essa é uma verdade
fundamental e absoluta, não tenho como errar ao seguir seu preceito".
Isso é social e
intelectualmente fundamental para darmos nossos primeiros passos em um certo
campo de conhecimento, como o vinho, por exemplo. Mas, quando vamos tendo mais
experiências, vemos que aqueles dogmas não são exatamente verdadeiros e de
maneira alguma absolutos.
Quando nos lembramos
daquela segurança inicial com a qual proferíamos e disseminávamos os dogmas
essenciais, recordamos da doce ingenuidade de nossa infância e seus mitos.
Sendo assim, decidimos elencar alguns desses mitos do mundo do vinho, que
servem muito bem a nosso conhecimento e que depois são maravilhosamente
destruídos, revelando que este mundo é um eterno desvendar.
Você pode até não
concordar com os pontos levantados, mas aí só está mais uma prova de que o
vinho, além de maravilhoso, é muito democrático.
MITO
1
O vinho melhora com o tempo
O vinho melhora com o tempo
Derrubar este mito é
como bater em bêbado, mas vamos considerar isso um aquecimento. Na verdade,
mais de 90 % dos vinhos produzidos no mundo são feitos para serem consumidos em
até um ano após saírem das vinícolas e, depois disso, ou não evoluirão ou
ficarão piores.
MITO
2
As regiões para produzir bons vinhos estão entre os paralelos 30 e 50º (norte e sul)
As regiões para produzir bons vinhos estão entre os paralelos 30 e 50º (norte e sul)
Vamos lembrar nossas
aulas de física e pensar que quanto mais subimos em uma mont anha, mais frio
fica. Hoje, o conhecimento científico e a prática das plantações em altitude
mostra que plantar vinhedos 100 metros mais alto equivale a plantá-los em uma
latitude 1o maior.
MITO
3
Vinhos de vinhedos em latada são inferiores
Vinhos de vinhedos em latada são inferiores
A superioridade da
condução em espaldeira é incontestável como método geral, mas, em locais onde o
sol é extremo e onde "não chove", os defeitos da latada se tornam
suas virtudes. A falta de sol nos frutos e no solo - que normalmente gera muita
umidade e proliferação de fungos - serve como proteção para que o fruto não
seja queimado e danificado pelo sol. Alguns belos vinhos vindos de verdadeiros
desertos têm sua qualidade auxiliada pela plantação de seus vinhedos em latada.
MITO
4
Vinhos brancos devem ser bebidos jovens
Vinhos brancos devem ser bebidos jovens
Em um país em que os
vinhos tintos reinam absolutos, poucas pessoas têm a felicidade de contestar
este mito, ou sequer têm o interesse de fazê-lo. Sim, a grande maioria dos
vinhos brancos é elaborada para ser bebida jovem, com até dois anos de vida.
Essa é a regra geral. Mas a verdade é que alguns vinhos brancos são verdadeiros
maratonistas, aguentam um longo percurso e, mais do que isso, ficam melhores a
cada ano que passa. Grandes Borgonhas brancos (como os da família Valette, por
exemplo), grandes Rieslings (cujos aromas de evolução são tão discutidos nesta
edição), os espet aculares Tondonia e outros tão especiais são prova disso.
Podemos ir além e mat ar dois mitos em uma garrafada só, ao dizer que é
possível (e recomendado, às vezes) decantar um branco, como, por exemplo, um
jovem Coulée de Serrant 2005, que pode esperar cerca de três horas para ser
degustado em seu esplendor. Assim, vinhos brancos têm que ser bebidos jovens e
não devem ser decantados? Mito.
MITO
5
Beber faz mal a saúde
Beber faz mal a saúde
Dezenas de estudos
realizados nos últimos 20 anos demonstraram cientificamente os benefícios à
saúde que o consumo do vinho proporciona. O vinho é um verdadeiro elixir, que
faz bem da pele ao coração, passando pelo cérebro, pela diminuição do risco de
diversos tipos de câncer e muito mais.
MITO
6
O vinho faz bem à saúde
O vinho faz bem à saúde
Os mesmos estudos que
comprovaram o benefício do consumo do vinho para nosso organismo quando bebido
frequente e moderadamente (máximo de duas taças ao dia parece ser a indicação
ideal), desaconselham fortemente seu consumo acima de quatro taças diárias; uma
vez que essa quantidade aumenta o risco de várias das mesmas doenças que ajuda
a prevenir quando bebido com moderação.
MITO
7
Vinhos orgânicos e naturais são melhores
Vinhos orgânicos e naturais são melhores
Como todas as outras
premissas, est a também está inexata. Não há duvida de que um vinho cuja
produção foi feita sem produtos químicos é melhor para a nossa saúde, mas não é
verdade que os vinhos orgânicos e naturais sejam melhores em qualidade que seus
irmãos não orgânicos.
MITO
8
Vinhos orgânicos são mais caros porque custam mais para serem produzidos
Vinhos orgânicos são mais caros porque custam mais para serem produzidos
Esta é uma verdade
apenas nos primeiros anos de um vinhedo orgânico, mas, uma vez que a vinha
encontra seu equilíbrio e proteção natural, passa-se a economizar pelo não uso de
produtos químicos e menor intervenção humana na planta.
MITO
9
Os vinhos mais caros recebem mais cuidados e assim têm maior custo de produção
Os vinhos mais caros recebem mais cuidados e assim têm maior custo de produção
Os custos de produção
sobem até um patamar, depois disso, pagamos mais pelo que representa um
determinado vinho do que por sua composição de custos. Valor histórico,
reconhecimento, escassez e outros elementos passam a influir mais no preço do
vinho que seu custo de produção.
MITO
10
Vinho bom é o vinho de que você gosta
Vinho bom é o vinho de que você gosta
Este é o mito dos
mitos, o grande sofisma adorado pelos iniciantes do mundo do vinho (e por
muitos que não são iniciantes). "Bom, se isso é falso, por que meus amigos
que entendem muito de vinho falam isso para mim?", alguns podem estar se
perguntando. Mas, se eles dizem isso, é exatamente porque são seus amigos, ou
então porque não têm tanta intimidade com você... A verdade, entretanto, é que
se fala isso para que uma pessoa não abandone o vinho por se sentir contestado,
e tenha a oportunidade de degustar mais, aprender mais e começar a divulgar
esse sofisma para outras pessoas que estão começando no mundo do vinho. Sim,
você tem o direito de gostar do que quiser, e mais do que isso, de tomar o que
gost a. Mas esse fato não faz com que o vinho que você gosta seja tecnicamente
melhor do que o que você não gosta. Nosso conselho: não se feche em dogmas e
esteja aberto a assumir que sempre temos a evoluir em capacidade de degustar e
conhecer coisas novas.
Por Christian Burgos
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