quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Abaixo o prosecco


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Fiz um esforço; no casamento de meu filho servi champagne Laurent Perrier. Entretanto – vim a saber – alguns garçons serviam os convidados com a frase "quer mais prosecco"? Ou seja, de tão comum o prosecco se tornou denominação geral de espumantes. Porque isso aconteceu é o que procuraremos explicar, antecipando que a resposta está... no preço.
Antes tentarei reconstruir a história do champagne, lembrando inicialmente que seria vinho ruim... se as bolhas não tivessem sido controladas. No frio nordeste da França, a fermentação começava no fim do outono e interrompia naturalmente no inverno (mais ou menos como hoje se controla a fermentação). Todavia, com a volta do calor na primavera, a fermentação reiniciava na garrafa arrolhada e... bum!

Os abades Perignon e Ruinart dominaram a técnica, encomendando vasos mais fortes e rolhas ao invés de panos. Mais tarde criou-se a remuage ou virada da garrafa de ponta-cabeça, com a remoção dos resíduos e a injeção do licor concentrado que induz a segunda fermentação. Tudo isso faz do champagne um produto caro. Com o auxílio do marketing, foi associado ao segmento luxo das grandes ocasiões, como vencer na Fórmula-1.

Estima-se que a França produza 500 milhões de garrafas, 300 milhões na Champagne, mais 200 milhões nas outras regiões (Crémant d'Alsace, de Bougogne, Vouvray). A segunda região produtora não é a Itália nem a Espanha (Cava), mas sim a... Alemanha. Seu espumante pouco conhecido se chama Sekt, e praticamente todas as 350 milhões de garrafas são consumidas internamente. Em seguida vem a Itália com 250 milhões entre Prosecco, Franciacorta e outros. No quarto lugar a Cava espanhola (nome do vinho e da região, na Catalunha, perto de Barcelona) com produção em torno de 200 milhões de garrafas/ano.

Pois bem, em 1800, Antonio Carpené e três amigos fundaram uma empresa em Conegliano para produzir espumante. Eis o início do prosecco que, mais tarde, tornou-se o mais consumido espumante italiano. O grande salto aconteceu na década de 1980 com a produção maciça em tanques de aço inoxidável e exportação para os EUA (1º) e Brasil (4º). A vantagem competitiva? Custa 20 a 25% do preço do benchmark. Mas nem tudo são flores; o problema foi o nome! Sim, prosecco é (ou era) nome de uma uva, não de uma região. Liberou geral; as regiões vizinhas ao centro também passaram a produzir, como também em vários países (inclusive o Brasil) mais ou menos como se vinificassem Tempranillo ou Sangiovese.

Em 2009, o governo Italiano demarcou a região original e num golpe de gênio que fez lembrar os velhos juristas do direito romano passou a qualificar a uva por seu nome nativo: Glera. Assim, a partir de 2010, o miolo nobre (Valdobiadene, Conegliano, Cartizze e Asolo) se chamará Prosecco DOCG (Denominação de Origem Controlada e Garantida) não mais como nome de uva, mas sim como nome da região. Quem utilizava a uva prosecco para navegar na onda, agora, ao menos do ponto de vista da lei italiana e da comunidade europeia, estará impedido. Acaso queiram continuar o engodo ao consumidor poderão usar o nome da uva... Glera. Ou seja, prosecco agora apenas da região original. Estima-se que, do total de 160/170 milhões de garrafas, o miolo produza 70 milhões, e o Prosecco (ops) regional (antiga denominação IGT, agora DOC) algo como 100 milhões.

Grandes juristas, maus espumantes! O problema não é legal, mas de intrínseca falta de qualidade. Direto e simplório, alguns exemplares chegam a ser enjoativos. A partir desta única... Glera, é leve, cítrica para doce e tem bolhas pouco persistentes. Beba logo porque o gás acaba. Vamos então engolindo sem atenção, perseguindo algo que o prosecco não retribui. Má vontade? Críticos são sempre crilas?

Façam para si mesmos um teste: qual o melhor prosecco de que se lembram? Nenhum... são todos tão iguais! Tanto é que a lei italiana de 01/08/2009 trouxe novas exigências em termos de menor produtividade por vinha, buscando melhorar a qualidade. Auguri, aspettiamo! A parte boa está no preço camarada, em torno de R$ 40. Nada contra a Itália, até porque prefiro franciacorta depois de champagne.
Se meu gosto pessoal prevalecesse teríamos o fim do prosecco nas festinhas de lançamentos e casamentos Brasil afora. Veremos na semana que vem se há algo melhor do que... Glera.
por Carlos Celso Orcesi da Costa

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